sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Médicos (pasmem!) aprovam a dieta do Twitter. Mas fazem ressalvas

Por Aline Banzato.


Anotar em um caderninho, todos os dias, tudo o que se come e bebe é um método manjado entre os que querem emagrecer. É muito comum médicos e nutricionistas recomendarem tal medida sob o argumento de que escrever faz com que a pessoa avalie o que e quanto come. A rigor, essa tomada de consciência ajuda a reeducar os hábitos alimentares e, em muitos casos, a diminuir o número de calorias consumidas. Mas o que os especialistas acham de compartilhar o diário pela internet, com milhares de participantes de uma rede social? Tem alguma diferença? Sim. "Quando se está em dieta, partilhar as dificuldades diminui a tensão e a ansiedade, um dos principais causadores da compulsão alimentar", avalia Niraldo de Oliveira Santos, psicanalista do Hospital das Clínicas de São Paulo.


As primeiras manifestações das dietas on-line começaram com os relatos de blogueiros, que publicavam a saga de enxugar quilos a mais. Agora, a onda de emagrecer escrevendo pousou no Twitter. No site Tweet What You Eat , os usuários anotam tudo o que consomem e expõem quantas calorias ingerem ao longo do dia. É um diário de refeições. Os registros podem ser atualizados diretamente na ferramenta ou por meio de mensagens enviadas a partir do Twitter de cada seguidor - as chamadas Direct Messages ou DM. Criado pelo programador Alex Ressi, em janeiro de 2008, o perfil @twye teve o número de seguidores aumentado em mais de 20% nos últimos dez dias. São mais de 12.300 integrantes.


Algumas pessoas funcionam melhor trabalhando coletivamente", observa Adriano Segal, psiquiatria da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. "O mesmo problema que acomete alguém hoje pode afetar outra pessoa amanhã. E esse tipo de grupo promove a discussão e permite que as pessoas se espelhem umas nas outras." A massoterapeuta Daniela Machado, de 34 anos, aderiu ao @twye e contabiliza menos calorias e mais disciplina. "Como posso me conectar a qualquer hora, até pelo celular, não fico com preguiça", diz Daniela. "Sem o diário, a gente perde a noção daquele pedacinho a mais. Quando escrevo ali 'sorvete' ou 'pizza', por exemplo, é como se estivesse me recriminando. É difícil, mas quando termino o dia com um bom saldo de calorias, o prazer é maior que o de comer. No primeiro dia calculei que consumi 1.600 calorias. No segundo, 1.100."


Com quantas calorias se faz o Twitter magroNo Tweet What You Eat , o valor calórico de cada refeição é preenchido pelo próprio usuário. Quando a pessoa não sabe a quantidade de calorias de cada alimento ou refeição, a própria ferramenta sugere. A sugestão é feita a partir das anotações dos outros participantes. Ao identificar a palavra "batata", o site pode indicar 30, 50 ou 100 calorias, por exemplo.


É nesse método que reside um dos principais questionamentos dos médicos e nutricionistas: como não há um controle rígido para saber se as informações são consistentes, as pessoas podem usar como parâmetro dados incorretos. O psiquiatra Adriano Segal explica que, levando-se em consideração apenas as calorias de cada alimento, o valor nutricional das refeições acaba ficando em segundo plano. "Você pode ingerir um número razoável de calorias comendo apenas pizza, por exemplo. Não há garantias de que está se alimentando de maneira saudável."

"Controlar as calorias ingeridas exige acompanhamento, porque cada biótipo funciona com uma dieta diferente", explica a nutricionista Sônia Trecco. A endocrinologista Cintia Cercato, do Hospital das Clínicas, concorda. "Uma pessoa pode ter como referência algo que não é adequado ao seu organismo. E a particularidade de cada organismo não pode ser ignorada."

O jeito, então, é usar o @twye de um jeito mais objetivo, combinando suas funcionalidades com o acompanhamento médico. A tentativa da estudante Polliana Araújo, de 21 anos, é justamente essa. Ela pesa 45 quilos e, ao contrário da maioria, usa o @twye para engordar. Do cafezinho até a refeição principal, Polliana anota tudo. Sua meta é ter uma boa noção da quantidade de calorias que consome e dos alimentos que ingere com mais frequência para, então, procurar um médico. "A partir do que for avaliado, vou conseguir mudar a alimentação ou os intervalos de uma refeição para outra para tentar engordar."

O psiquiatra Niraldo de Oliveira sinaliza que o uso de ferramentas como o @twye é mais eficaz se a pessoa não esquecer algo essencial: além de ter acompanhamento médico, não adianta nada passar o dia inteiro escrevendo e, no fim das contas, não aliar a esse programa alguma atividade física, por exemplo. Do contrário, a compulsão por escrever pode substituir, por exemplo, uma possível compulsão por comer. "Além de descrever a refeição, é fundamental ocupar o corpo e a cabeça com outras atividades."




http://veja.abril.com.br/noticia/saude

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